Silvio Mieli
"No início do terceiro milênio, estamos diante de uma situação única na história, que faz com que uma corporação privada da América determine a maneira pela qual buscamos informações". Assim começa a primeira parte da "Pesquisa sobre os perigos e oportunidades apresentados pelos programas de busca na internet (Google, em particular)", desenvolvida ao longo do ano passado pelo Instituto de Sistemas da Informação e Computação da Universidade de Tecnologia de Graz, na Áustria. O projeto foi coordenado pelo Prof. Hermann Maurer e financiado pelo Ministério austríaco dos Transportes, Inovação e Tecnologia – o estudo completo pode ser baixado aqui:http://www.iicm.tugraz.at/iicm_papers/dangers_google.pdf
A pesquisa questiona uma atitude natural dos usuários da internet: procurar qualquer coisa naquele retângulo mágico do buscador Google. Se não aparecer nada talvez "a informação que buscamos efetivamente não exista". Será?
O objetivo do trabalho, cujos resultados foram pouco divulgados pela mídia corporativa, é demonstrar o comportamento monopolista da empresa Google, além de denunciar o que os pesquisadores chamaram de "Síndrome Google de Copiar e Colar". Trata-se da emergência de uma geração de "pesquisadores" que limitam-se a fazer uma colcha de retalhos de informações pinçadas no Google, travestidas de trabalhos escolares ou acadêmicos, sem ao menos citar as fontes.
A apresentação da pesquisa austríaca vai direto ao ponto: "para qualquer um que encare a questão fica claro que o Google acumulou um poder que acabou se constituindo numa ameaça à sociedade", já que transformou-se na principal interface entre a realidade e o pesquisador na internet. O Google tem o monopólio dos programas de busca e invade massivamente a privacidade das pessoas. Sem enfrentar limitações de qualquer natureza, o Google conhece particularidades dos indivíduos mais do que qualquer outra instituição, "transformando-o na maior agência de detetives do planeta". A influência do Google na economia é direta, principalmente na maneira pela qual os anúncios são exibidos (quanto mais a empresa pagar, maior visibilidade o anúncio terá). Aliás, parte do seu faturamento, superior a 16 bilhões de dólares em 2007, deve-se à sua estratégia de publicidade online através dos links patrocinados.
Hierarquia
Desde o primeiro programa de buscas na internet, o Altavista, lançado em dezembro de 1995, vive-se a sensação do dado bruto transformar-se em conhecimento, em informação viva. Com o aparecimento do Google, fundado em 1998 pela dupla Larry Page e Sergey Brin, jovens doutorandos da Universidade Stanford, na Califórnia, passou-se para um outro patamar de programas de busca. Brin definiu que as informações na web deveriam ser organizadas numa hierarquia de popularidade. Ou seja, quanto mais um link leva a uma página específica mais a página merece ser ranqueada nos resultados do programa de busca. Outros fatores, como o tamanho da página, número de mudanças, atualizações constantes, títulos e links no texto foram incluídos na programação (algorítmo) do Google. Lentamente o programa implantou um processo de hierarquização das informações que passou a ser aceito sem contestações. Em março de 2007 o Google atingia 53,7% do mercado dos buscadores da rede (segundo dados da Nielsen/ NetRatings).
Considerando-se que muitas das informações que circulam na internet partem de indicações do Google ou da Wikipédia (a grande enciclopédia de conteúdo "aberto" da internet), Stephan Weber, co-autor do projeto da Universidade de Tecnologia de Graz, denuncia uma espécie de "Googlarização da realidade", já que existem fortes indícios que o Google e a Wikipédia operam a partir de uma espécie de parceria. Os pesquisadores escolheram ao acaso 100 verbetes em alemão e outros 100 em inglês do índice de A a Z da Wikipédia e colocaram estas palavras-chave em quatro grandes programas de busca (Google, Yahoo, Altavista e Live Search). O Google registrou 91% dos resultados das entradas da Wikipedia (em alemão). Para os sites em inglês os resultados atingiram 76% de registros no Google. "Parece evidente que o Google está privilegiando os sites da Wikipedia em seu ranque", concluiu a pesquisa, seguida pelo Yahoo (56% em alemão e 72% em inglês).
Plágio
A segunda seção da pesquisa dedica-se à emergência de uma nova técnica cultural e suas implicações sócio-culturais: o plágio (a tal síndrome do "Copiar e Colar") e suas relações com os conceitos contemporâneos de propriedade intelectual. O estudo cita o caso de um ex-aluno de psicologia da Universidade Alpen-Adria de Klagenfurt, na Áustria, que elaborou a sua tese de doutorado com mais de cem fragmentos copiados da internet. As primeiras páginas da tese eram uma colagem de vinte sites, muitos dos quais sem o menor rigor científico. Diante do plágio, a universidade passou a aplicar um software alemão de detecção de cópias chamado Docol©c (http://www.docoloc.de/), cujos resultados ainda estão sendo testados.
A proposta prática da pesquisa é a de reduzir a influência do Google a partir do desenvolvimento de outros programas de busca especializados, desvinculando a hierarquia comercial do livre fluxo de dados públicos que circulam pela internet.
Assim como o estadunidense Gerg Venter, dono da empresa Celera, pretende mapear o código genético de tudo o que é vivo para patentear e vender, o Google parece querer codificar todas as informações circulantes no planeta, segundo critérios que nem sempre privilegiam o interesse público. Mais do que enfatizar o Google como "a empresa do século 21", a Universidade de Graz presta um grande serviço ao conscientizar os internautas dos limites e perigos dessa estratégia e, ao mesmo tempo, conclama os pesquisadores a uma ação imediata que impeça a "googlalização da realidade".
Silvio Mieli é jornalista e professor da faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica (PUC - SP).
(Fonte: Brasil de Fato, v.6, n.274, p.2, 29 de maio a 04 de junho 2008)
Alô... 1, 2, 3, Testando... Bom, vamos lá, minhas considerações acerca desta matéria, garimpada no site do meu amigo Prof. Dr. Oswaldo.
Diz o professor Sílvio:
A pesquisa questiona uma atitude natural dos usuários da internet: procurar qualquer coisa naquele retângulo mágico do buscador Google. Se não aparecer nada talvez "a informação que buscamos efetivamente não exista". Será?
Digo como técnico em informática e usuário de sistemas de informação há mais de 15 anos que quem não acha o que procura é porque não sabe procurar e não porque não existe o que ele procura. Um indivíduo que faz uma pesquisa séria, que é profissional, sabe onde procurar a informação que deseja, geralmente com a ajuda de um bibliotecário, o especialista em informação. Que com certeza, não utiliza o Google como ferramenta de pesquisa. Para isso, existem base de dados específicas, geralmente divididas em áreas do conhecimento humano. Qualquer pessoa que se aventura no meio acadêmico "descobre" isso, sinceramente, se não descobriu, ou estava dormindo na sala ou estava no bar, ocupado demais bebendo.
O objetivo do trabalho, cujos resultados foram pouco divulgados pela mídia corporativa, é demonstrar o comportamento monopolista da empresa Google, além de denunciar o que os pesquisadores chamaram de "Síndrome Google de Copiar e Colar". Trata-se da emergência de uma geração de "pesquisadores" que limitam-se a fazer uma colcha de retalhos de informações pinçadas no Google, travestidas de trabalhos escolares ou acadêmicos, sem ao menos citar as fontes.
O que aconteceu na verdade, foi uma clara visualização das distorções causadas pela educação deficiente nos quatro cantos do mundo, escancarando a ignorância e o atraso em que se encontram os indivíduos. O ser humano é ainda o que sempre foi, um animal. Digo isso baseado no fato da palavra mais buscada na internet ser sexo. Uma clara manifestação de nosso lado animalesco. E somos animais agressivos e hostis. Poucos de nossa espécie aceitam ser corrigidos. Poucos estão dispostos à aprender. A maioria permanece na inércia de estar vivo. Para que pensar, se posso copiar e colar? As bibliotecas escolares em nosso país são uma piada. As bibliotecas em nosso país são uma piada. A profissão é motivo de piada. O povo é ridículo. E a disseminação de computadores pessoais junto com a inclusão social esta escancarando uma realidade trsite: a mentalidade do brasileiro médio se mostra tão ou até pior que a do Homer Simpson.
A apresentação da pesquisa austríaca vai direto ao ponto: "para qualquer um que encare a questão fica claro que o Google acumulou um poder que acabou se constituindo numa ameaça à sociedade", já que transformou-se na principal interface entre a realidade e o pesquisador na internet. O Google tem o monopólio dos programas de busca e invade massivamente a privacidade das pessoas. Sem enfrentar limitações de qualquer natureza, o Google conhece particularidades dos indivíduos mais do que qualquer outra instituição, "transformando-o na maior agência de detetives do planeta". A influência do Google na economia é direta, principalmente na maneira pela qual os anúncios são exibidos (quanto mais a empresa pagar, maior visibilidade o anúncio terá). Aliás, parte do seu faturamento, superior a 16 bilhões de dólares em 2007, deve-se à sua estratégia de publicidade online através dos links patrocinados.
Para quem tem consciência crítica, isso realmente não configura um problema de fato. O que dá para perceber é que a maioria das pessoas que acessam a rede, principalmente depois da popularização do PC (Personal Computer, computador pessoal), é de que falta a base para criar o discernimento de saber o que presta e o que não presta. Quanto à dinheiro e maneiras de se conseguí-lo, sou radicalmente contra o monetarismo em que vivemos. Mas isso é motivo para outro post.
Sobre o restante do artigo, o que tenho a dizer é o seguinte:
O ser humano torna-se dependente dos mecanismos que cria. Exemplo? O Carro. A internet é um grande livro que está testemunhando a epopéia humana de uma maneira nunca sonhada. Ainda não houve o grande boom da internet. Este vai ocorrer quando cada indivíduo neste planeta se situar e descobrir o verdadeiro poder da rede. Não quero defender o Google, a partir do momento em que há dinheiro envolvido, as pessoas fazem coisas anti-éticas, mas parece que o objetivo do google é ser um índice para toda essa informação. Para tudo, existe um primeiro passo e o google está se tornando uma ferramenta que funciona neste sentido. Agora, se o que ele apresenta são resultados errôneos, mal escritos, sem fonte, totalmente sem noção, não acredito que a culpa seja do google, mas sim, da popularização da informática, que está revelando bizarrices monstruosas, vide orkut, msn, entre outros.
Novamente afirmo que as pessoas ainda não perceberam o poder da rede. Por isso existe essa distorção em torno do google. O que ocorre é que o google sempre se mostrou mais acurado que o restante disponível e conquistou espaço.
As pessoas esquecem duas coisas: que a humanidade está evoluindo numa velocidade surpreendente. O crescimento da taxa de produção de conhecimento é ascendente, acentuada no último século. Basta um matemático ter um insight e criar um novo algoritimo, robo, programa, rotina, que seja o que for, que seja melhor que o google, pronto, acabou a ameaça. Daí em diante as ameaças serão outras. Que na verdade, se resume sempre à mesma: O maior inimigo do homem é ele mesmo. E a perpetuação da ignorância. Ela sim é nosso inimigo. A ignorância e as lendas devem ser combatidas e eliminadas, para que a humanidade se supere e vá para outro nível de evolução.
Se você chegou até aqui, aguardo seu comentário. Precisamos urgentemente descobrir como "acordar" o indivíduo para o "aprender a aprender", isto é, incutir na índole da pessoa a buscar pelo conhecimento, não importando o suporte, desde que se tenha o acesso. Discute-se a forma, quando o objeto da discussão deveria ser o meio. Essa é minha opinião. Aguardo a sua.
É isso.
Para finalizar, Buddhist Monkey: