Don Quixote de La Mancha é um dos clássicos da literatura universal. Lançado em 1605 pelo lendário Miguel de Cervantes, o livro já encantou várias gerações em diversos cantos do planeta e muitos já discorreram sobre seu conteúdo. Do russo Dostoievski ao brasileiro Machado de Assis, centenas de escritores disseram ser esta uma das obras mais importantes já escritas.
Will Eisner dedicou grande parte da sua vida a outro gênero de arte, os quadrinhos. O consagrado mestre da arte seqüencial realizou um esforço inestimável para alçar as HQs ao patamar das "grandes artes", algo que não foi em vão.
Nesta obra, Eisner faz uma releitura de um dos cânones da literatura. E quando ele encontra Cervantes, Quixote descobre a nona arte.
Obviamente, não é possível transpor nas 32 páginas do gibi toda a grandeza espalhada pelas centenas de laudas do romance. Como Eisner sabia disso, se agarrou a um único propósito: transpor o espírito quixotiano para os quadros de sua obra. Para tanto, utiliza desenhos de grande expressividade aliados a uma narrativa ágil.
Os cenários desenhados fazem jus aos narrados no livro, mas é na configuração das personagens - seus rostos bem delineados, as emoções aparentes nos olhos e a irretocável anatomia - que Eisner traduz o sentimento que permeia a aventura original.
O escritor e desenhista percebeu que não adiantava focar a atenção na história em si, uma vez que a original possui todo o material necessário para um excelente narrativa. Também ponderou que pouco ajudaria tentar retratar um número grande de aventuras, uma vez que nunca conseguiria suprir tudo que o texto original de Cervantes continha.
A obra é claramente voltada para as crianças que ainda não tiveram acesso ao original, mas isso não impede que um adulto curta a aventura. Do risível e emblemático encontro com o moinho à cruel cena do linchamento, o álbum prende a atenção do leitor, fazendo-o entender um pouco mais do espírito da cavalaria.
O final é belo. Ao transformar o próprio Cervantes em personagem de sua história, Eisner demonstra que mitos e lendas, sejam eles autores ou personagens (Cervantes ou Quixotes), vivem séculos a fio na memória dos leitores e nas páginas de seus livros; e que uma boa história jamais morrerá e está apta a diversas interpretações.
Se há um ponto negativo é a falta de material explicando quando, onde e por quem a obra foi originalmente escrita. Como mencionado acima, a HQ é destinada a crianças e adolescentes e uma ficha ajudaria a situar a história. Nada que prejudique fatalmente a edição, uma vez que a narrativa de Eisner/Cervantes consegue ter voz e vida própria.
(retirado de Universo HQ em 02/04/2009)
esse texto nao e exclarecedor
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